Como o poder da mente pode te deixar mais forte, sem mexer um único músculo


Foto: Divulgação

Por Psicomundo em 15/Dez/2021

A ideia de que podemos ficar mais fortes mesmo no conforto do nosso próprio sofá parece boa demais para ser verdade.

Mas há evidências reais de que podemos melhorar nosso desempenho físico sem mover um músculo — apenas com a “força do pensamento”.

Pesquisas mostram que a chamada “imagética motora” — técnica que consiste basicamente da representação mental de uma atividade física — realmente funciona.

“Sabemos que a imagética motora tem vários efeitos. É capaz de melhorar nossa precisão, nossa velocidade, nossa força. Pode realmente melhorar todos esses aspectos dos nossos movimentos”, diz a neurocientista cognitiva Helen O’Shea, da Universidade de Dublin, na Irlanda.

A técnica é muito usada por atletas de elite, mas você também pode tentar. Em poucas palavras, basta imaginar que está fazendo um determinado exercício, sem reproduzi-lo externamente.

Exercício mental

As pesquisas mais recentes mostram que combinar a imagética motora com a prática física é uma maneira mais eficiente de se tornar um atleta mais forte ou melhor do que o treino físico sozinho.

Para praticá-la com eficácia, devemos visualizar o fluxo e o ritmo de nossos movimentos e, em esportes direcionados, o resultado que queremos alcançar.

Os benefícios da visualização têm sido usados em uma variedade de atividades — do rúgbi ao tênis, e até mesmo nos ajudando a correr mais rápido.

Mas não são apenas as habilidades que podem ser aprimoradas com o poder do pensamento.

Muitos de nós gostaríamos de ficar mais fortes, mas levantar peso muitas vezes é um trabalho árduo para iniciantes.

A boa notícia é que a imagética motora também pode ser útil neste caso, já que demonstrou melhorar nossa força muscular.

Se imagine mais forte

A ideia de que você poderia aumentar a força com a mente vem de estudos na década de 1990.

Em um deles, pesquisadores da Universidade do Estado da Louisiana, nos EUA, pediram a um grupo de mulheres que imaginassem estender os joelhos e contrair os quadríceps por cinco segundos — se certificando de que elas, na verdade, não fizessem de fato nenhuma contração muscular.

Ao final do estudo, a força do quadríceps delas havia aumentado impressionantes 12,6%.

Em um experimento semelhante realizado pela BBC para um programa de televisão alguns anos atrás, constatou-se que a força muscular dos participantes aumentou, em média, cerca de 8%.

Não porque os músculos ficaram maiores (isso não aconteceu), mas porque, depois de um mês pensando em um exercício específico, passaram a usar mais fibras musculares para fazer o mesmo movimento.

O poder da mente

“Quando você olha para a imagética motora, é uma técnica cognitiva — não espera algo como ganho de força”, diz a neurocientista.

“(Mas) quando começamos a estudar esta área, descobrimos que a imagética motora não apenas melhora nossa habilidade de movimento, como na verdade altera a maneira como nosso cérebro funciona e como nossa fisiologia funciona.”

É que a imagética motora não envolve apenas as partes conscientes do nosso cérebro — as partes envolvidas no pensamento —, mas também as redes motoras responsáveis ​​pela execução da atividade.

Esta técnica nos ensina a estimular nossos músculos de uma forma mais específica e eficiente, para não desperdiçar energia.

“Não é que se ganhe massa muscular. Porque é por isso que ainda precisamos da prática física, para a massa de um músculo”, explica O’Shea.

“Mas o impulso para esses músculos a partir dos sinais elétricos (do cérebro) vai ser muito mais afinado. Estamos usando apenas os músculos que serão chave para esse movimento, não estamos desperdiçando energia em nenhum outro músculo de que não precisamos.”

Ou seja, os músculos não ficam maiores, mas você se torna mais eficiente em usá-los.

Foi por isso que as participantes do estudo da Universidade do Estado da Louisiana foram capazes de levantar mais peso apenas com a força do pensamento.

“Podemos usar de fato a imagética motora para preparar nossos sistemas motores para que, quando viermos a executar fisicamente o movimento, já estejamos sintonizados e prontos para agir”, afirma.

“E isso permite que sejamos mais certeiros e precisos com nossos movimentos.”

Pode parecer pouco convencional, mas é uma maneira fabulosa de aprimorar nossa resposta e aperfeiçoar nossa técnica.

Para o que mais é usada?

De acordo com a especialista, a imagética motora é usada em uma série de atividades — muito além do esporte.

“Nossa pesquisa nos mostra que é realmente eficaz para músicos, para cirurgiões, e é usada para reabilitação motora. E há um corpo maior de pesquisas que demonstra isso”, afirma O’Shea.

Esta técnica pode te ajudar a ficar mais forte, aprimorar um movimento em particular, melhorar a função muscular e até mesmo a se recuperar após uma lesão.

A especialista esclarece, no entanto, que, como não envolve movimentos físicos, não ajuda no nosso nível de condicionamento.

Dicas para praticar

Se quisermos obter os melhores resultados, O’Shea aconselha combinar a visualização com a prática da atividade física.

“Normalmente, dizemos para alternar — você pode fazer quatro mentalizações e depois fazer uma execução física”, sugere.

“Precisamos de movimento físico para nos dar aquele conhecimento sensorial dos efeitos dos nossos movimentos — não sabemos como vamos sentir o movimento”, diz ela.

Isso é importante para tentar sentir nosso corpo realizar o movimento de uma perspectiva em primeira pessoa.

“Certifique-se de manter o mesmo fluxo e ritmo de quando executa fisicamente essa ação”, observa O’Shea.

No melhor dos mundos, ela recomenda que você pratique as representações mentais no local em que vai realizar fisicamente a ação.

Se você quer aperfeiçoar aquele saque de tênis, segurar a raquete ou de fato ir até a quadra também reforçará os efeitos da imagética motora.

“Mantenha os olhos abertos. Você pode visualizar a trajetória da bola assim que acertá-la em sua mente”, diz ela.

Sim, você pode atrair alguns olhares estranhos, mas isso vai te ajudar a visualizar uma representação mental vívida e precisa do movimento.

“Não é absolutamente necessário. Mas há evidências de que ajuda”, esclarece O’Shea.

Na série Just One Thing, da Rádio 4 da BBCum voluntário foi convidado a tentar aprimorar suas habilidades de chute a gol praticando a imagética motora por de 15 a 20 minutos durante cinco dias.

Ele fez isso do seu quintal, com seu uniforme de futebol, imaginando chutar a bola na rede, sem tocar na bola.

Ele havia dito que a última vez que marcou um gol foi há 18 anos, e estava um pouco enferrujado. Ao fim do experimento, ele havia marcado dois gols em duas partidas.

Quer você esteja aperfeiçoando aquela flexão ou tentando reduzir seu tempo em algum esporte — por que não tentar?

Você não precisa fazer sessões de imagética motora de mais 20 minutos, já que o ritmo destes exercícios mentais também pode ser cansativo.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59319005

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